quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Falmouth Harbour, Antígua e Barbuda, 21-02-2013

Hoje o rum Mount Gay faz 310 anos.

A festa interessa-me pouco: o Mad Moongose cheio a abarrotar; uma festa que vai ser, nas palavras de C. (a proprietária) "um bocadinho caótica" - ela sabe do que fala, há dois anos tiveram mais de 3000 pessoas (no Reef Gardens, convém precisar); e posso homenagear tranquilamente o rum escrevendo, como agora, ou bebendo-o, como agora e  daqui a pouco.

Antigua - enfim Falmouth Harbour - continua aquele bocadinho de gente, rum, confusão, boa e má comida que conheci o ano passado e pelo qual me apaixonei imediatamente. Mas, como todas as paixões, também esta exige uma partida, uma viagem, uma separação. Parece que uma paixão não sobrevive se não tiver um momento de dor, ou inevitabilidade, ou simples asneira dentro dela. Talvez; não sei. Em breve partirei para a Costa Rica, para a costa oeste da Costa Rica. A julgar pelas fotografias o sítio é lindo. O resto vai ser um problema conhecido. Que se lixe. Há muito tempo que quero fazer a viagem para Sul pela costa "Pacífica" da América. Esta vai ser de S. Francisco até Pequos, um mês de abençoado mar.

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Abençoado não é o termo, mas agora não me ocorre outro e tenho um aniversário à minha espera.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Steadman, Falmouth Harbour





Falmouth Harbour, Antigua e Barbuda, 09-02-13 / II

O acordo com o Seabreeze está feito e selado. Começa na segunda-feira, só com frios - o café tem cozinha mas não tem fogo, para minha grande surpresa. Falta resolver o problema da logística: ir a Jolly Harbour para as compras - e sobretudo tentar fazer as coisas com o menor investimento possível.

Encontrei finalmente uma tabela de Alt Codes bem feita, aqui. Que alívio, poder escrever com acentos num teclado normal.

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Qualquer dia acaba o Clonix e o calcanhar continua. 

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A priori tinha tudo para ser uma má ideia: carregado com três sacos de compras, a mochila verde do computador e da vida e o saco da máquina fotográcia, pedir boleia de Jolly Harbour para Falmouth Harbour pela estrada "errada" só podia dar errado - aliás várias pessoas mo disseram.

A posteriori revelou-se a decisão certa: gastei metade do tempo, metade do dinheiro e foi muito mais divertido. Apanhei creio que quatro boleias e um táxi colectivo que devia ser de Grenada; ou então estava cheio de sábado, não sei.

Mas que tenho de arranjar uma solução para as compras tenho.

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Contrariamente ao calcanhar o olho pôs-se bom num instante. Amanhã - tal como, de resto, J. previu - estará pronto para outra. É impressionante, a velocidade à qual alguns orgãos recuperam, e outros não.

Skullduggery, Falmouth Harbour





Noopi, Falmouth Harbour


Falmouth Harbour, 02-13 / II




Falmouth Harbour, 02-13 / I




Falmouth Harbour, Antígua e Barbuda, 09-02-2013

Há bocadinho, pouco mais de meia hora, escrevi neste blog "o fim do fim-de-semana, finalmente". Era domingo à noite, eu estava contente porque o fim-de-semana fora muito longo, interminável.

Agora, meia hora depois, é sábado. Os planos que tinha para hoje e amanhã goraram-se: dar um passeio de bicicleta e fazer fotografias, mas por razões várias a bicicleta desmaterializou-se e agora tenho de arranjar outra coisa.

A semana passou a uma velocidade alucinante. Trabalho na manutenção dos barcos da Ondeck, por vezes em Falmouth Harbour, outras no estaleiro, no lado norte da ilha. Ao meio-dia paramos para comer numa barraca à beira da estrada. É espantoso o que se come bem nessas barraquitas, onde somos servidos em caixas de take away, um pequeno garfo de plástico enrolado num igualmente pequeno guardanapo de papel. Isto - uma dose pequena de galinha ou porco e uma garrafa de água - custam-me 13 EC, cerca de 4 euros.

Trabalhar na manutenção de uma embarcação de charter é como fazer mimos à mulher por quem se está apaixonado. Trata-se de uma sequência interminável de pequenos trabalhos - olear dobradiças, substituir parafusos, pintar uma antepara, substituir um  espelho, reforçar balaustradas... Por vezes há algumas tarefas mais importantes, como mudar os rolamentos do leme ou substituir o trocador de calor do motor, mas são raros.

Somos uma equipa de três ou quatro; trabalhamos muito, falamos pouco e queixamo-nos da escassez de tempo, do trabalho que parece não avançar, da quantidade de coisas inesperadas que há para fazer. Mas "a lista", a nossa biblía, lá vai sendo riscada e riscada.

Qualquer dia A., por sinal o barco que fui buscar à Isla San Andrés e pelo qual tenho uma particular ternura está na água, não sei se grato se indiferente.

Arranjei outro café para os petiscos. Chama-se Seabreeze, fica mesmo ao lado do Skull e era o último sítio onde pensaria fazer seja o que for, por estar associado a momentos difíceis. Mas daqui a pouco tenho uma reunião com o dono, e se chegarmos a acordo começarei em breve a fazer tapenade, hummous, peixinhos da horta, pica paus, etc. Se as noites começarem a passar tão depressa como os dias qualquer dia dou por mim num caixão e tudo aquilo de que me lembrarei será de que vivi a vida que quis. Não é muito, talvez; mas para mim chega.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Falmouth Harbour, Antígua e Barbuda, 07-02-2013

A "minha" bicicleta chegou hoje, finalmente. Entre aspas porque não é minha: alugo-a à S. do Skullduggery. O qual acrescenta assim a mobilidade à longa lista de coisas que me fornece: café, rum, bálsamo para a alma, notícias locais. S. recusa-se a dizer-me quanto quer pelo aluguer. Tenho que ser eu a dizer-lhe, apesar dos múltiplos avisos de que não posso pagar muito.

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O post de dia 2 revelou-se precoce em todos os sentidos. Não voltarei ao assunto, pelo menos tão cedo: não se pode escrever sobre o fogo com fogo nem sobre sangue com sangue. A dor, como a alegria, como tudo precisa de distância, de tempo.


Mesmo sabendo que Time is a fake healer, como disse Lowry, que sabia do que falava.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Falmouth Harbour, Antígua e Barbuda, 02-02-2013

O luto está feito, o incêndio apagado. Pouco a pouco as brasas esmorecem, apagam-se, preparam-se para o vento que as levará. A dor transformou-se em melancolia e daí não sairá mais.

São feias às cicatrizes, mas é onde a pele é mais forte. Tenho uma nova para acrescentar à longa lista das que não só me cobrem, mas fazem de mim o que sou.

O resto interessa pouco. A Tatiana voará com as suas próprias asas, como dizia recente e aprovadoramente a minha filha. Eu continuarei a mudar de vida de vez em quando e, em troca, a deixar-me mudar por elas - vidas e Tatianas.

Tenho a sorte de tudo isto se ter passado em Antigua, que injustamente não mencionei no outro post. Só aqui ou Lisboa poderia ter saído tão depressa do horror. Ela por ela, antes aqui: o calor é mais quente, a vista mais bonita, o mar mais mar, o rum mais barato.

O futuro próximo está mais ou menos traçado: RYA, uma ligeira operação a um calcanhar (ligeira mas que me obrigará a um mês em Lisboa), cada vez mais provavelmente um transporte para o México. Depois não sei; mas sei o que farei depois desse depois. Numa embarcação bonita fundeada numa baía bonita sonharei com as viagens que não fiz, esquecer-me-ei de tudo o que devia ter feito e preparar-me-ei para a última mulher da minha vida, que será uma mistura de todas as mulheres que terei amado (enfim, isto se for para o céu, claro. Se for para o inferno, o que é pouco provável mas não impossível, serei esperado por uma mistura de todas as mulheres que não amei).

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Encontrei uma bicicleta e fiz compras no supermercado; de amanhã a Sandra, do Skullduggery, fez uma bonita e comovente declaração de apreço e amizade por mim (e quando digo comovente meço as palavras); pouco depois foi a vez do " meu" taxista. Aqui há uns anos escrevi um post sobre a minha pertença a Lisboa. Poderia escrevê-lo hoje sobre Falmouth Harbour. Com uma diferença: o meu amor por este país, contrariamente ao outro, é correspondido.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Falmouth Harbour, Antígua e Barbuda, 01-02-2013

A taxa da coisa no sangue subiu, finalmente. A dor de corno - e as outras todas - vão ter de se amanhar sem rum, ou com muito menos. Com recaídas ou sem elas.

Um dia não são dias, e este chega ao fim comigo sóbrio.
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